*Carlos Rotea Junior
Sou Carlos Rotea Junior, nascido em 15 de maio de 1970 e diagnosticado aos seis anos de vida com diabetes, depois de apresentar sintomas clássicos da doença como perda de peso, urina em demasia e ingestão de água abundante. Não há como descrever tamanho susto em toda a família quando do relato médico ao comentar o resultado dos exames, sendo eu até então o único em ambas as linhagens materna e paterna.
Nesta época, as insulinas tinham dois tipos de apresentação – 40 UI e 80 UI e as seringas continham duas escalas correspondentes, o que gerava enormes confusões ao puxar a dosagem de uma na escala da outra; mas felizmente anos depois padronizaram a dosagem para 100 UI, eliminando dessa forma os problemas de aplicação.
Sou da geração Glicofita, ou seja, não medíamos glicemia e sim glicosúria e, a partir de uma escala de cores, sabíamos como seria nossa refeição, mais palatável ou restritiva. Hoje, não podemos nos queixar. Dispomos de tecnologia avançada em insulinas, seringas, canetas, agulhas, glicosímetros, bombas, sensores, além do que já está chegando… e as novas gerações terão possibilidades infinitas desde que sejam responsáveis para aceitar a doença e aderirem ao tratamento.
Apesar de todo o cuidado médico, preocupação em seguir um cardápio saudável moderado acompanhado de atividade física de diversas modalidades como basquete, tênis, ciclismo, alpinismo, remo, artes marciais, o controle glicêmico sempre foi instável que culminou no ano de 2000 numa retinopatia, cauterizada por foto coagulação a laser e, desde então, permanece estável. Em 2006 meus rins começaram a “gritar” por socorro e, desde então meu médico começou a controlar a ingestão de proteínas e tentar reduzir as glicadas, mas não obteve êxito e a consequência em 2015 foi o transplante renal.
O processo de cicatrização foi lento, mas meu organismo aceitou bem o órgão transplantado, tanto que mantenho uma baixa quantidade de imunossupressores.
O comprometimento renal trouxe outras consequências nocivas orgânicas como o distúrbio do metabolismo do cálcio, fazendo com que o mesmo se desprendesse dos ossos tornando-os fracos e se acumulasse nas artérias, trazendo obstruções importantes circulatórias.
Meu envolvimento comunitário em torno do diabetes se deu em 1979, 1980 e 1981, época em que participei das três primeiras Colônias de Férias para Diabéticos do Brasil promovidas pelo Dr. Vivollo e pela ADJ, da qual sou associado desde a sua fundação em 1980. Até outubro passado nunca havia me integrado a algum grupo físico ou virtual, quer do “falecido” Orkut ou do Facebook. Porém, por ocasião do processo para aquisição da bomba de insulina, foi sugerido que eu entrasse em um deles. Achei curioso e a evolução foi rápida, em alguns dias passados já participava de muitos grupos virtuais. Passei a acompanhar aqueles que estavam engajados em trocas e doações de insumos e no mês seguinte, constatei as reclamações quanto à falta deles nos postos de saúde, fato inicialmente concentrado no RJ e depois espalhado por muitas outras localidades do país.
Devido ao agravamento da falta de insumos e imbuído pelo ideal de ajuda às pessoas com diabetes, comecei a contatar muitas pessoas em busca de informações para criar o movimento Ação Pró-Insumos.
O governo com certeza voltará a abastecer seus postos com os fármacos necessários, mas não será funcional se o modelo atual for mantido; a falta periódica de insumos continuará ocorrendo e trará prejuízo à saúde dos indivíduos com diabetes. Quanto à minha parte, continuarei na luta. Na minha ótica, muitas coisas ainda precisam ser feitas. Diabetes não se resume em conhecer o que é insulina, hiperglicemia ou hipoglicemia; envolve todo um conjunto da relação da pessoa com a doença e de sua aceitação, a adesão ao tratamento, a influência do papel familiar, profissional e social.
Muitas instituições atuam no suporte e educação desta doença crônica que até os dias atuais ainda não existe cura. Porém gostaria que as pessoas procurassem ler mais sobre o assunto. Quanto mais informações tiverem a esse respeito, maior será a sua aceitação e mais fácil será o tratamento. Diabetes não é incapacitante, ela não impede que você pratique esportes até os mais radicais; ela permite que viva de forma saudável e em pé de igualdade com qualquer pessoa!
*Bancário concursado, com formação Técnica em Química, Bacharelado em Química, Marketing e Gestão.
Fonte:https://www.debemcomavida.com.br/carlos-rotea-junior-e-sua-atuacao-em-prol-das-pessoas-com-diabetes/
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