A pandemia de COVID-19 é causada pelo vírus SARS-Cov-2 (vírus
coronavírus 2 associado a síndrome respiratória aguda grave), que
compartilha sequência de aminoácidos bastante semelhante ao coronavírus
da SARS (SARS-Cov-1) que surgiu também na China em 2002. Os vírus
entram no corpo através das mucosas da boca, nariz e olhos.
Por isso, a
orientação de não levar as mãos a estas regiões do corpo! A partir destas
portas de entrada, o vírus pode atingir os pulmões, um dos principais alvos
do vírus. Proteínas da superfície do vírus se ligam a proteínas da membrana
da célula chamadas ECA2 (em inglês ACE2), considerados os receptores
funcionais para a infecção do vírus. Desta forma, os vírus conseguem entrar
na célula e se replicar, causando a infecção.
A ECA2 ou enzima de conversão de angiotensina tipo 2 quase não está
presente na circulação, mas é bastante expressa em órgãos, como o pulmão.
Daí se explica o porquê dos casos mais graves atingirem o pulmão.
O que é essa ECA2?
A ECA2 é uma enzima parecida com a enzima de
conversão de angiotensina (ECA).
O que é ECA e iECA?
A ECA ou enzima de conversão de angiotensina é uma das enzimas
importantes no controle do sistema cardiovascular.
Assim, inibidores da ECA
(iECA) são medicamentos bastante utilizados no tratamento de doenças relacionada ao sistema cardiovascular, tais como a hipertensão arterial,
insuficiência cardíaca e complicações renais da hipertensão arterial e do
diabetes mellitus.
Qual a relação dos iECA e o novo coronavírus? Estudo epidemiológico
mostrou maior taxa de infecção pelo COVID-19 em pacientes com doenças
cardiovasculares, hipertensão arterial e diabetes mellitus. Exatamente estes
pacientes são os que geralmente usam iECA e outros medicamentos, como
os bloqueadores de receptor de angiotensina 2 (BRA ou ARA2) no
tratamento.
No entanto, a ECA e a ECA2 têm ações diferentes dentro do
corpo. A ECA2, que está envolvida com a infecção do coronavírus, também
está relacionada com o sistema cardiovascular, mas os iECA agem mais na
ECA e bem menos no ECA2. O tratamento com iECA pode aumentar a
expressão de ECA2 nas células, podendo hipoteticamente aumentar o risco
de infecção. Mas enfatizo que isto ainda é HIPOTÉTICO. Então ainda não é
possível afirmar que pacientes usando iECA sejam mais infectados por
estarem usando o iECA. Portanto, NÃO DEIXEM DE USAR O iECA ou BRA
SEM ORIENTAÇÃO MÉDICA. São exemplos de medicamentos iECA o
captopril, o enalapril e o lisinopril e de BRA a losartana, valsartana,
candesartana, irbesartana, telmisartana e a olmesartana.
E qual a relação do ibuprofeno e o novo coronavírus?
Tanto a ECA quanto a ECA2 são quininases, que são enzimas responsáveis
pela degradação das quininas, como a bradicinina, que é uma substância
vasodilatadora e envolvida no processo inflamatório. Curiosamente, A
bradicinina foi descoberta por três fisiologistas brasileiros liderados por
Maurício Rocha e Silva durante estudos sobre a histamina.
Os antiinflamatórios não hormonais (AINH ou AINES), como o ibuprofeno, são
medicamentos que têm em comum a capacidade de controlar a inflamação,
de causar analgesia (reduzir a dor), e de combater a febre. Tanto a ECA2 e
os AINHs, como o ibuprofeno, estão envolvidos na mesma via da inflamação.
O uso do ibuprofeno mostrou aumento da expressão de ECA2 nas células e
portanto hipoteticamente também pode estar envolvido com maior risco de
infecção.
Qual a posição da Organização Mundial de Saúde (OMS) quanto ao uso
de ibuprofeno?
A OMS não é contrário ao uso do ibuprofeno diante das evidências atuais.
O
Ministério da Saúde brasileiro desaconselha o uso de ibuprofeno e outros
AINEs, tais como o diclofenaco, o cetoprofeno e o naproxeno, se os
pacientes tiverem sintomas relacionados à infecção do COVID-19. Nestes
casos, usar preferencialmente a dipirona ou o paracetamol
MENSAGENS FINAIS:
1) Não suspendam o uso dos medicamentos iECAs ou BRAs sem orientação
médica. Estes medicamentos são muito importantes para o tratamento da
hipertensão arterial, da insuficiência cardíaca e de complicações do rim
causadas pela pressão alta e diabetes. Nem sempre há substitutos
equivalentes a estas medicações.
2) Evitem, por enquanto, o uso de anti-inflamatórios, como o ibuprofeno, para
tratar febre, dor e inflamação, ou se houver sintomas suspeitos de infecção
pelo novo coronavírus (COVID-19). Você pode substituir o uso deles por
dipirona e paracetamol.
Fontes:
- Hamming I, Timens W, Bulthuis ML, Lely AT, Navis G, van Goor H.
Tissue distribution of ACE2 protein, the functional receptor for SARS
coronavirus. A first step in understanding SARS pathogenesis. J
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- Hoffmann M, Kleine-Weber H, Schroeder S, Krüger N, Herrler T,
Erichsen S, Schiergens TS, Herrler G, Wu NH, Nitsche A, Müller MA,
Drosten C, Pöhlmann S. SARS-CoV-2 Cell Entry Depends on ACE2
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- Wu C, Chen X, Cai Y, Xia J, Zhou X et al. Risk Factors Associated
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- Twitter: https://twitter.com/WHO/status/1240409217997189128
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-03/ministerio-dasaude-desaconselha-ibuprofeno-para-tratar-covid-19
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