Hoje
em dia as informações estão na palma da mão. No mundo da internet e das mídias
sociais é muito comum que as informações circulem sem qualquer tipo de
regulação quanto à sua veracidade. As chamadas “fake news” ou ainda as notícias
geradas sem embasamento científico geram no público leigo algumas crenças que
podem sim ser perigosas quando o assunto é saúde. E um dos temas que mais sofre
com isso certamente é o colesterol.
Desde que
“colesterol alto faz bem”, que “alimentos ricos em gorduras saturadas podem ser
ingeridos à vontade” ou que “medicamentos para tratamento de colesterol devam
ser abolidos”. Estas e muitas outras afirmações acabam deixando nós, médicos
dedicados ao estudo das evidências científicas, de cabelos em pé.
Uma das áreas em
que mais estudamos os efeitos do colesterol é no Diabetes. Isso acontece porque
o Diabetes tem como sua maior causa de morte e complicações as doenças
cardíacas ou cerebrovasculares devido à formação de placas de gordura nas
artérias. O depósito progressivo de gordura na parede das artérias gera uma
inflamação local que pode obstruir o trajeto do sangue por dentro delas. Se for
uma artéria coronária – que leva sangue ao coração, a obstrução causa infarto.
Se for uma carótida – que leva sangue ao cérebro, a obstrução causa um acidente
vascular cerebral isquêmico (AVCI). Se for em uma artéria da perna, até
amputação em certos casos.
Diante de anos de
estudo, o que se sabe é que sim, quanto mais alto o nível de colesterol LDL –
que é o colesterol de baixa densidade, maiores são os riscos de formação de
placas de gordura, que chamamos de ateromas. E que de forma oposta, quando
menores os níveis de LDL, menores os riscos. Isso é comprovado através de
estudos que observaram pacientes durante anos e que correlacionaram os níveis
de colesterol com o número de infartos, derrames ou eventos de isquemia.
Além disso vale
entender que sim, a dieta tem papel importante no controle dos níveis de
colesterol, mesmo que a origem dele seja familiar (genética). A recomendação da
Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção de aterosclerose é reduzir dos
níveis de gordura saturada das dietas, priorizando as gorduras mono e
poli-insaturadas (de origem vegetal). A simples troca de carboidratos por
gorduras saturadas aumenta o risco de eventos cardiovasculares maiores
(infartos e AVCIs). Além disso, deve-se abolir o consumo de gorduras trans.
E sobre os
medicamentos? O tratamento com as estatinas (sinvastatina, rosuvastatina,
atorvastatina, por exemplo) é a primeira linha quando falamos em prevenção de
eventos cardiovasculares. O correto é utilizar calculadoras de risco (exemplo: http://www.cvriskcalculator.com) para tomarmos decisões sobre qual paciente
deverá receber o tratamento e qual força desse tratamento. Para pacientes
diabéticos, os últimos consensos têm indicado o uso das estatinas e a
associação com outros medicamentos (ezetimiba, inibidores de PCSK9...) quando
for essencial reduzir mais ainda os níveis de LDL colesterol.
A ciência por traz
do estudo do colesterol é extremamente séria é ponderada. Quando se adiciona
que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, com
31% das mortes globais, não há mais lugar para “fake news” e interpretações sem
embasamento científico. É lugar de pesquisa, ética e tratamentos corretos.
Pense nisso!
Quer saber mais?
2019 ACC/AHA Guidelines
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